sábado, 26 de janeiro de 2008

Maquinando por e-mail



Olá para todos!

Baseado nas reflexões propostas por Carlos e Serra eu e a Ana pensamos n'algo que reputo ser interessante, senão, fundamental dentro desse processo, pelo menos na minha avaliação do momento. Começo com algumas indagações e sigo com uma história.

Lembram-se do Sidharta? Como seríamos capazes de envolver uma cara como ele e tantos outros nas comunidades que visitaremos?
O Serra tocando J. Quest na varanda, antes do terno? Qual o significado disso para o menino que pediu?
Que contribuição estaremos levando ao, com nossas máquinas captarmos nossas impressões, usarmos nosso olhar para traduzir o que está acontecendo? lembro que tinha quase tanta gente filmando quanto gente "se manifestando". Que referências buscar na hora de promover o questionamento do valor cultural dessas manifestações nos locais onde acontecem? Esse valor é nosso ou deles, melhor, que diferença há entre esses valores?

A história: Um arquiteto estava envolvido em um projeto de construção de cisternas em uma favela. Teve a idéia de montar uma oficina de construção de pias, com a mulherada local com o material excedente. Como bom oficineiro ouviu a comunidade. Perguntou que tipo de pia eleas gostariam que fosse contruída na sua cozinha. Bem, sairam os modelos de pia que elas viam na TV, na revista Caras, as pias onde elas trabalhavam nas casas de suas patroas, pias cheias de azulejo e requintes e mármores e brilhos. Ninguém pode falar nada desse cara, ele "ouviu" os anseios daquela gente. Mas ele foi além: começou a perguntar pelas lembranças dessas mulheres, as pias onde lavavam as mão quando crianças, as pias das casas de suas mães, avós, etc. Como eram, de que eram feitas, qual olugar dessas pias em suas memórias afetivas. O passo seguinte foi perguntar novamente que tipo pia queriam...

Desculpem se encho linguiça mas acho importante esse papo todo pra dizer que talvez nosso maior diferencial seja o de envolver e dar a essas pessoas/comunidades a ferramenta para que elas possam transformar esse movimento. Oficinas de comunicação/história, oficinas de manuseio das câmeras e por fim, o registro feito pelo olhar dessas comunidades. Buscar a pia da infância para que o Sidharta enxergue ou materialize o que o terninho tem a ver com sua vida. Não que ele tenha de cantar como o pai ou o irmão mais velho, mas que dentro desse processo todo ele se enxergue e àqueles que o rodeiam.

As questões técnicas envolvidas são muitas, mas factíveis dentro das idéias colocadas até o momento em nossas conversas: as ferramentas que estiverem ao alcance, a máquina de fotografar, a câmera do celular, a rede de ensino público, a secretaria de educação, a rede de pontos de cultura, a rede que pode envolver essas comunidades não só no fazer em questão mas na dimensão da transformação que esse fazer propõe. Nosso papel seria o de gerenciar essa captação, a distribuição, a projeção e o debate sobre isso tudo. Relatores e facilitadores do relato dos participantes.

Viajo mais um pouco por conta própria, a Beibe não concorda muito mas penso que somos todos músicos/artístas, até mesmo poderíamos incluir esse nosso olhar, também nos transformaremos, que tipo de música/arte poderíamos propor depois dessa experiência?

Bem, isso foi para contribuir para o debate e tb uma proposta concreta de objetivo, justificativa e método, que precisam ser masi "pragmatizadas" no papel.
As imagens captadas e produzidas por nós: o nosso olhar na produção do documentário. O olhar estrangeiro. A comunidade passiva no processo de criação do documentário.
As imagens captadas, organizadas pela comunidade envolvida nas manifestações culturais: uma auto-afirmação profunda. Um questionamento realizado pela própria comunidade a respeito da sua situação cultural.
As manifestações tradicionais são realizadas geralmente pelos mais velhos da comunidade. O trabalho de criação de documentário sobre essas manifestações dos "velhos" realizado pelos "novos". Os novos, jovens, os que são responsáveis pela continuidade da cultura, pela sua manutenção, pelo seu MOVIMENTO, pela sua conservação enquanto cultura que se modifica, moderniza-se
O trabalho com mídias e tecnologia atuais para o registro de manifestações "da terra", "dos antigos". A proposta de se fazer um trabalho utilizando tecnologias atuais em relação aos anseios dos mais jovens.
Câmeras fotográficas, filmadoras, já fazem parte do momento das manifestações. Mas para onde vão essas mídias? Quem as assiste? E quem as captura? A proposta é o trabalho em cima desse PROCESSO DE PRODUÇÃO DO DOCUMENTÁRIO. Num primeiro momento a comunidade participa das manifestações realizando a captação das imagens das festas. Também faz um trabalho de pesquisa ao realizar entrevistas, registros do meio-ambiente da comunidade. Um segundo momento seria o processo de produção dos registros, na transformação das imagens num documentário, é um outro momento, importante. Uma terceira etapa é a da volta do conteúdo produzido à comunidade. Seria o momento de "manifestação" das pessoas que criaram o documentário, a sua arte! Organizar projeções em espaço da cidade, e nesse momento também se trás para a divulgação os vídeos feitos por outras comunidades do projeto. Um momento de troca, manifestação, debates...

Acho que é importante questionar qual o nosso papel? Como, em todas as etapas, trabalhando com a questão da autonomia e expressão da comunidade envolvida, vamos nos envolver? Qual seria o método de trabalho? Fazer oficias e talvez deixar lá, disponibilizar o equipamento, mas sempre mantando um monitoramento, dialogo, assessoramento e questionamento também com a comunidade. Nosso papel é acompanhar, perguntar "de onde vem a pia" e "é essa pia mesmo que se quer?". Nosso papel tambem é promover a divulgação e distribuição, e durante o processo de formação do filme. Pode-se ter um blog, alimentado pela comunidade com as noticias das produções, onde se tem a possibilidade do diálogo entre os grupos de trabalho das diferentes comunidades.
Objetivo:
O objetivo é promover a explanação, expressão, questionamento por parte da comunidade envolvida em certas manifestações populares, a partir do processo de criação de documentário sobre a sua própria manifestação popular.